As crianças precisam de tempo para explorar seus pensamentos, sentimentos e relacionamentos. Normalmente pensamos que as crianças precisam de socializar, mas a cada idade corresponde uma fase de desenvolvimento diferente, que pode variar conforme a personalidade das crianças, saúde, etc.. É importante respeitar essas fases, independentemente da criança demonstrar interesses que normalmente associamos a outra fase. Por exemplo, um bebé que demonstre interesse por andar sem passar pela fase de gatinhar, pode simplesmente ter desenvolvido esse interesse por falta de oportunidades de ser independente, de ser deixado no chão a explorar livremente o espaço e a ultrapassar os desafios com as suas capacidades físicas. Outro exemplo: uma criança de 2 anos pode estar interessada em números e letras e em comunicação verbal porque foi estimulada pelo meio ambiente para isso e porque não teve oportunidade de explorar ambientes naturais, com desafios como subir árvores, correr, mexer na terra, nas folhas, etc..
A evolução do ser humano na Terra é replicada nas crianças, desde que estão na barriga da mãe, num meio aquático, passando pela postura em que gatinham como primatas, até que se erguem e começam a caminhar verticalmente. A postura vertical é um dos mais recentes desenvolvimentos na evolução biológica. Normalmente temos pressa com os nossos filhos e esperamos que eles falem, andem e aprendam a ler mais depressa do que os outros, mas um ser humano equilibrado integra o corpo e a mente, dando atenção a ambos.
Muitas vezes, para além de esperarmos que as crianças se desenvolvam rapidamente, também esperamos que comuniquem com os outros e se sintam bem em ambientes com muitas crianças, sempre em interação, esquecendo os momentos para a integração das aprendizagens, que só se consegue através do silêncio, do estar só.
Dar tempo e espaço à criança permite-lhe desenvolver a compreensão do mundo, do meio ambiente e de tudo dentro dela através do uso das suas emoções, imaginação e sentidos.
Nos dias de hoje, muitos adultos sentem uma pressa crescente para que as crianças aprendam a ler, a contar e a dominar competências académicas cada vez mais cedo. Esta pressão vem, muitas vezes, do medo de “ficarem para trás”, da comparação constante com outras crianças ou da crença de que aprender cedo é sinónimo de ser mais inteligente. No entanto, quando antecipamos fases que não pertencem ainda ao desenvolvimento natural da criança, criamos tensão interna e retiramos tempo às aprendizagens fundamentais: o movimento livre, o brincar espontâneo, a exploração sensorial, a autonomia e a construção da identidade. Ler ou contar antes do tempo não representa um avanço, mas sim um desvio que, mais tarde, pode manifestar-se em dificuldades emocionais ou de concentração.
Da mesma forma, a obsessão com o desempenho académico e com as notas reduz a aprendizagem a algo externo, medido e comparado, afastando a criança da sua motivação interna. Quando o foco está apenas no resultado – ler depressa, escrever bonito, ter boas notas -perde-se a curiosidade natural, a alegria da descoberta e a relação saudável com o erro. A verdadeira aprendizagem não nasce da pressão, mas da experiência vivida, da relação segura com o adulto e do tempo que cada criança precisa para integrar corpo, emoções e pensamento. Quando respeitamos esse tempo, estamos a educar não só para o conhecimento, mas para a vida.
